Eu queria falar umas coisas para o Chico. Tenho tanto a dizer. Começaria revelando que ele é um dos grandes fios que ligam o meu passado até o meu hoje. Chico fez parte de todos os fins de semana da minha casa, quando eu era criança. Escutando você, Chico, eu ouço a voz do meu pai cantando suas músicas. Consigo sentir até o cheiro da comida que ele preparava para nós e lembro do meu irmão, bem pequenininho, pedindo para ele colocar aquele disco da música do “cavalo que falava inglês”. Éramos tão pequenos e sua presença tão forte nas nossas vidas.
Eu lembro que suas letras não faziam muito sentido naquela minha cabecinha tão curiosa e em plenas descobertas. Sabe, falar sobre isso alivia um pouco aqueles arranhões que a vida provoca na gente e ouvir você me anestesia e me transporta de volta a tudo aquilo que por muitas vezes eu acabei esquecendo. Quando adolescente eu descobri o verdadeiro significado de “Cálice” e isso mexeu tanto comigo, Chico. A partir disso, toda a minha base político-ideológica se construiu sobre suas letras, e sou apaixonada por quem eu me tornei por causa desse caminho que segui. Ainda hoje tento te decifrar, sem sucesso, claro.
Você é mesmo indecifrável e para te ouvir, eu só preciso sentir, sem questionamentos e sem armaduras. Uma relação de admiração e descobertas. De corpo e alma, onde eu só preciso estar. E só para registrar, “As caravanas” ainda me deixa impactada, sem previsão de sair de mim.
Obrigada, Chico.