Penso em palavras soltas, armazeno impressões, faço listas mentais. Pego o caderninho da vez e rabisco metade das coisas elaboradas nos últimos minutos, me debatendo para lembrar de tudo o que pensei antes.
Rabisco umas poucas ideias, ligo o notebook. Abro uma página em branco e vou procurando alguma foto que possa associar o que imaginei ao que estou vendo agora. Sou muito visual, reflito. Talvez por isso eu esteja aqui, batendo a cabeça para lembrar um pouco mais. Enquanto isso, coloco uma música para tocar na minha playlist, que está sempre no modo aleatório. Coloquei tudo no mesmo lugar, tenho preguiça de escolher algo específico, então deixo rolando o que vier. Mil e doze músicas. Sessenta e quatro horas de sons, batuques, poemas cantados, melodias da memória afetiva, amores e desamores, tem de tudo aqui. Balanços involuntários, boas lembranças. Finalmente abro a nova página e começo a transcrever o conteúdo do caderno. Pesquiso sinônimos, não posso repetir palavras, fica cansativo para quem lê, eu penso.
A música da vez me desconcentra, pulo para a próxima, talvez seja mais calma. Digito, apago, digito, apago, numa sucessiva sequência de pequenos bloqueios. Repito, apago novamente, não está bom, paro um pouco, levanto e vou beber um copo d`água. Deixa o sangue correr solto pelo corpo, deixa essas palavras descansando, deixa ver, deixa ver. Volto e sento novamente. Reescrevo, apago a vírgula. Perde o sentido, vírgulas sempre testam os limites da minha capacidade. Recoloco, troco a palavra.
É, talvez fique bom assim. Reviso. Ponto, publicado. Agora não faz mais parte de mim. Minhas palavras são tuas, mundo.